Nossa culpa no massacre das crianças do Rio.

     Fizemos parte desta história, não ajudamos a escrever um final feliz e  somos feitos do mesmo barro daquele jovem assassino.

Demorei muito para ter coragem de falar sobre este assunto: O massacre das crianças em uma escola do Rio de Janeiro. 

Não tinha coragem porque era muito recente, não tinha coragem porque era muito dolorido, não tinha coragem porque era muito sórdido.

Não vai passar, ainda dói muito e é incrivelmente cruel. Mas não podemos nos furtar de olhar para dentro de nós quando algo assim acontece. 

Aquele jovem assassino é feito do mesmo barro que nós. É da mesma matéria prima, da mesma raça, é HUMANO!

É duro dizer assim, mas não foi desumana sua atitude, nenhum outro animal mata desta forma fria e planejada. 

Os outros animais só matam para se proteger ou sobreviver: só os humanos matam assim! Cada vez que um fato deste acontece, todos nós perdemos um pouco da nossa dignidade humana e expomos nossas fraquezas e nossa face mais escura.

A família e a escola deveriam ser os lugares mais seguros para nossas crianças. Não são. 

A escola não é um lugar apartado do mundo e congrega tudo que há de bom e de ruim na infância e na juventude. E a família é a fonte, a origem, de tudo o que há de bom e de ruim no ser humano. 

Assassinos, estupradores, pedófilos e terroristas de todas as marcas não são criados em laboratórios, nascem de uma família e possuem uma história.

 Pode-se até argumentar que só um doente invadiria uma escola armado e mataria friamente tantas crianças. Mas ele não é o único: a humanidade está doente.

E qual é a nossa culpa? Somos culpados cada vez que achamos normal uma criança não ter brilho nos olhos, não sorrir, não desobedecer, não fazer barulho. Somos culpados quando nós, pais e educadores, exigimos silêncio, obediência cega, conformismo, quietude. Somos culpados quando não ouvimos as queixas, não observamos o comportamento, não abraçamos, não beijamos, não sentimos o coração de nossos pequenos baterem junto do nosso. Somos culpados quando debochamos de quem se preocupa com os jogos violentos, com os filmes violentos, com a mídia irresponsável e sensacionalista. Somos culpados quando nos isolamos dos nossos mais queridos e nos refugiamos no mundo virtual ou quando deixamos nossos pequenos se isolarem.

Nada justifica a monstruosidade daquele assassino que semeou o horror naquela escola. Mas dói saber que pela nossa omissão em mudar alguns rumos, em reescrever alguns papéis, a história destes personagens e das suas vítimas poderia ter um final mais feliz.