Cecília Meireles
Se há uma criatura que tenha necessidade de formar e manter
constantemente firme uma personalidade segura e complexa, essa é o
professor.
Destinado a pôr-se em contato com a infância e a adolescência, nas suas
mais várias e incoerentes modalidades, tendo de compreender as
inquietações da criança e do jovem, para bem os orientar e satisfazer
sua vida, deve ser também um contínuo aperfeiçoamento, uma concentração
permanente de energias que sirvam de base e assegurem a sua
possibilidade, variando sobre si mesmo, chegar a apreender cada fenômeno
circunstante, conciliando todos os desacordos aparentes, todas as
variações humanas nessa visão total indispensável aos educadores.
É, certamente, uma grande obra chegar a consolidar-se numa personalidade
assim. Ser ao mesmo tempo um resultado — como todos somos — da época,
do meio, da família, com características próprias, enérgicas, pessoais,
e poder ser o que é cada aluno, descer à sua alma, feita de mil
complexidades, também, para se poder pôr em contato com ela, e
estimular-lhe o poder vital e a capacidade de evolução.
E ter o coração para se emocionar diante de cada temperamento.
E ter imaginação para sugerir.
E ter conhecimentos para enriquecer os caminhos transitados.
E saber ir e vir em redor desse mistério que existe em cada criatura,
fornecendo-lhe cores luminosas para se definir, vibratilidades ardentes
para se manifestar, força profunda para se erguer até o máximo, sem
vacilações nem perigos. Saber ser poeta para inspirar. Quando a mocidade
procura um rumo para a sua vida, leva consigo, no mais íntimo do peito,
um exemplo guardado, que lhe serve de ideal.
Quantas vezes, entre esse ideal e o professor, se abrem enormes
precipícios, de onde se originam os mais tristes desenganos e as dúvidas
mais dolorosas!
Como seria admirável se o professor pudesse ser tão perfeito que constituísse, ele mesmo, o exemplo amado de seus alunos!
E, depois de ter vivido diante dos seus olhos, dirigindo uma classe,
pudesse morar para sempre na sua vida, orientando-a e fortalecendo-a com
a inesgotável fecundidade da sua recordação.
Texto de Cecília Meireles, extraído do livro Crônicas de Educação 3
Acabei de ler isso hoje: todo organismo vivo precisa fazer trocas para viver. A mente do professor somente se manterá viva se as fizer. Trocar ideias com escritores através dos seus livros, trocar ideias com leigos, com catedráticos e, principalmente, com seus alunos, os quais te darão as medidas necessárias para a sua atuação perfeitamente ajustada ao perfil de sua clientela (não gosto desta palavra, mas não arrumei outra melhor).
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